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Eticamente, fratura por fragilidade óssea exige não só tratamento da fratura, mas também da Osteoporose

 

A pior fratura por fragilidade óssea é a de quadril pela sua alta mortalidade e morbidade. Cerca de 50% dos pacientes que fraturaram o quadril sofreram anteriormente uma outra fartura por fragilidade, de ombro, vértebra ou punho e na grande maioria n...

A pior fratura por fragilidade óssea é a de quadril pela sua alta mortalidade e morbidade.

Cerca de 50% dos pacientes que fraturaram o quadril sofreram anteriormente uma outra fartura por fragilidade, de ombro, vértebra ou punho e na grande maioria não foram tratados da Osteoporose (que causou a fratura) e não foram alertados do que tinham o risco aumentado para uma segunda fratura. A colocação é do presidente do Comitê de Doenças Osteometabólicas da SBTO, Bernardo Stolnick, um dos pioneiros na difusão da obrigatoriedade da prevenção da chamada segunda ‘fratura’.

Para Stolnick, é um dever ético do cirurgião que atende um paciente com fratura por fragilidade óssea cuidar para que a Osteoporose seja tratada. “O cirurgião pode tratar ele mesmo da Osteoporose, indicar o tratamento com um reumatologista ou endocrinologista, mas o importante é deixar bem claro ao paciente que fratura sofrida é a primeira q que se sobrevier a segunda o risco de morte aumenta exponencialmente”.

O especialista lança o alerta , que por sinal está sendo objeto de uma campanha da SBOT, porque com o envelhecimento da população se espera um aumento muito grande das fraturas por fragilidade e diversos países da Europa e Estados Unidos já estão empenhadas profundamente na prevenção da segunda fratura.E não é só o envelhecimento que aumenta a incidência da Osteoporose, os hábitos da vida modernos levam à fragilidade óssea precoce.O que acontece é que o jovem tornou-se mais sedentário, tem alimentação inadequada e tendência à obesidade, que levou o Brasil a ter mais de 50% da populção com sobrepeso e o aumento do número de jovens que cursam a Universidade num sistema competitivo, passando a maior parte do tempo nos estudos, junto ao computador, tornou muito limitada a exposição ao sol e aos esportes.

“O resultado é a fratura por fragilidade óssea cada vez em faixas etárias mais jovens.Resultados impressionantes. A boa notícia é que a prevenção da segunda fratura não é importante apenas do ponto de vista ético. É extremamente eficaz para o paciente”, explica Bernardo Stolnick, que cita o primeiro combate sistemático ao risco da refratura, através do ‘Prevrefrat’, programa desenvolvido no Rio de Janeiro, implementado no Hospital Federal de Ipanema e, posteriormente, também em Brasília.“A redução na ocorrência da segunda fratura foi de 97%”, explica o ortopedista, com base na estatística referente aos primeiros 450 pacientes tratados. Para quem precisa de mais detalhes, ele recomenda o site www.prevrefrat.org, onde conta, por exemplo, que um estudo feito com pacientes idosos operados após fratura do fêmur, indicou que 55% tinham sofrido uma fratura prévia, que deveria ter sido considerada como sinal de alerta. “ Não o foi, entretanto a Osteoporose evoluiu e eles acabaram sofrendo a segunda fratura”.

Serviços especializados
O Brasil já conta com os primeiros serviços especializados na prevenção secundária de fraturas e os especialistas explicam que a aderência ao tratamento costuma ser bastante boa, talvez devido ao argumento usado: o paciente que fraturou quadril ou fêmur, tem o dobro de chance de fraturar o outro fêmur e mais, numa porcentagem muito alta essa segunda fratura costuma levar ao óbito.
Os Serviços Ortogeriátricos estão se multiplicando na Europa e nos Estados Unidos, como consequência do aumento da demanda de pacientes idosos com fragilidade óssea, continua Bernardo Stolnick, e a tendência é que o mesmo ocorra no Brasil, a médio prazo. O fato com o qual o cirurgião deve se acostumar, é que cada vez mais o atendimento de uma fratura de fêmur torna-se multidisciplinar.
Afinal, lembra o médico, o paciente idoso costuma ter comorbidades que precisam ser levadas em conta, diabetes, hipertensão arterial e cardiopatias, entre elas , e tanto no pré como no pós-operatório, o concurso do clínico geral é necessário e frequente. Outro aspecto importante é a rapidez no atendimento, que melhora o prognósticoe , para que a cirurgia possa ser levada a efeito de imediato, é preciso o concurso de outros especialistas, além do ortopedista.

Mudança do estilo de vida tornarão a osteoporose em ‘doença’ pediátrica, segundo Marcio Passini

A osteoporose e as consequentes fraturas por fragilidade óssea, principalmente da coluna vertebral e do colo de fêmur se tornaram mais frequentes em virtude das mudanças de estilo de vida. A criança que troca o leite pelo refrigerante , que em vez da atividade física para o dia diante do computador e sem exposição ao sol, está criando a tendência para que a Osteoporose se transforme em ‘doença’ pediátrica e já levou ao crescimento da prevalência da Osteoporose e do índice de fraturas muito além do que seria lógico esperar pelo envelhecimento da população.
A colocação acima, feita por Marcio Passini, um dos especialistas da campanha recém-iniciada pelo SBOT contra a segunda fratura, é um alerta para os ortopedistas que, segundo ele, tem hoje a obrigação moral e ética de tratar ou encaminhar para tratamento da Osteoporose se o paciente chegar com uma fratura causada pela doença e que, a médio prazo, “certamente passarão a ter também a obrigação legal de cuidar da Osteoporose”.
Na campanha para leigo, Passini define a fratura por fragilidade óssea como “a fratura causada por uma queda da própria altura, como quando alguém tropeça na rua, cai e fratura o punho, por exemplo”. Para o especialista, porém, há clara correlação entre a fratura da extremidade proximal do fêmur e o óbito precoce e não tem dúvida em afirmar de forma categórica que, estatisticamente, é o tratamento da Osteoporose que reduz o índice de óbitos.

Fratura é só consequência
Ao falar para O Quadril, Marcio Passini disse que “existem estudos que deixam claro que os pacientes portadores de Osteoporose morrem mais cedo, independentemente de sofrerem ou não fratura”.
O problema é a Osteoporose, enfatiza, que se relaciona com a Osteoartrite, com Alzheimer, com problemas cardiológicos, e por isso a importância de ser combatida. Para confirmar sua colocação, Passini usa as revisões sistemáticas realizadas anualmente por Martyn Parker e Susan Handoll, de Cambridge, para a Cochrane, que comparam estudos realizados com o uso comparativo de DHS versus Gamma Nails e outros pinos IMs para fratura transtrocantérica. As revisões mostram que a mortalidade é igual nos dois grupos. O interessante é que o estudo começou para avaliar qual a estratégia com melhor efeito, mas os resultados das duas estratégias são semelhantes.
Assim é que nos primeiros anos as revisões indicavam 33% de mortalidade no primeiro ano, 15 anos depois da mortalidade caiu para 16% e Passini acredita que a redução seja devida ao tratamento de Osteoporose, pois sabidamente os clínicos passaram a dar maior importância à doença e muito mais gente está sendo tratada, inclusive no Brasil.
Para confirmar a ideia, o médico fez um levantamento mais amplo na leitura, comparando estratégias, tratamento da Osteoporose e verificando a mortalidade. Isso reforçou sua crença de que é tão importante tratar da fratura, como da Osteoporose.

Tratar a Osteoporose para não morrer
Desafiante por natureza, Passini, que além de membro da SBQ é membro do Comitê de Doenças Osteometabólicas da SBOT, propõe um enfoque inteiramente novo: “Hoje, tratamos a Osteoporose para prevenir a fratura, mas acredito que temos que tratar a Osteoporose par evitar a morte, independentemente da fratura ou não fratura.”.
Várias pesquisas no exterior analisaram três grupos, o paciente que morre precocemente e não teve a Osteoporose tratada, o paciente fraturado que morre mais tarde, por ter a Osteoporose tratada e o paciente que não tem Osteoporose e vive muito mais. ”As pesquisas deixam claro que nosso trabalho é levar o paciente do primeiro grupo para o segundo e com isso aumentar sua sobrevida”, diz Passini. Para se chegar a esse objetivo, porém, não basta o trabalho o ortopedista e a questão passa a ser multidisciplinar, ”é preciso envolver o ginecologista, o ourologista, o clínico geral, o endócrino, o reumatologista, o geriatra e até a nutricionista”, e deixa-los em alerta para a presença de fatores de risco.
”Esse é nosso desafio no momento”, continua Marcio Passini, um ‘tour de force’ para que as várias especialidades se unam no combate a uma doença ardilosa, silenciosa e que se espalha pela humanidade.
Ele conclui com mais uma prova de que mudanças dos hábitos de vida abriram o caminho para a epidemia osteoporótica. ”Em 1995, pesquisadores italianos fizeram um estudo de densitometria numa população com 35 anos – que se pensava ver a idade-pico para a massa óssea – e 10 anos depois fizeram o estudo, concluindo que o pico tinha baixado em 10%”. A conclusão é que, a cada ano, a população como um todo piorou 1% na sua qualidade óssea, um dado impressionante e cujos efeitos, cumulativos, serão ainda mais graves nos anos vindouros ”e chegarão a nossos consultórios”.
Por isso mesmo, finaliza Passini, a imensa responsabilidade do ortopedista, o único especialista que vê a fratura na radiografia, que vê e pega o osso fraturado, que sabe ou precisa saber que, constatada uma fratura osteoporótica, há 2,5 vezes mais possibilidade de que ocorra a segunda fratura osteoporótica e também o óbito. Em decorrência, a crença do especialista é que, se hoje é obrigação moral e ética cuidar da Osteoporose, chegará o dia em que será obrigação legal e o cirurgião que não orientar o paciente no combate à Osteoporose, estará, de direito, cometendo uma infração legal e certamente uma infração grave.

 

Publicado em O Quadril

 

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