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Stephane Tommasi, 17 anos, expert em body-boarding, levou um baita susto no mês passado. Pegava onda no Posto 5 quando caiu de mau jeito de uma formação de dois metros e fraturou duas vértebras. Impossibilitada de se mover até que um colete terapêutico ficasse pronto, ela passou parte do tempo no hospital Cardiotrauma, em Ipanema, falando com amigos que sequer precisavam ir vê-la. Usou um serviço recém-implantado no local e em outros dois hospitais no Rio: a visita virtual, via internet sem fio.

Munida de notebook, headset e webcam fornecidos pelo hospital, que tem uma banda larga com uma rede Wi-Fi interna, Stephane pôde conversar à vontade com seus amigos profissionais do body-board, como o parceiro Alexandre Tessotti, no Espírito Santo.

– Consegui me comunicar direitinho com eles através do serviço – conta Stephane, que, valente, voltará ao mar no próximo verão.

Tecnologia ajuda na prevenção e no tratamento

Este é apenas um exemplo da crescente integração entre medicina e tecnologia, que ocorre nas mais diversas áreas – do atendimento ao paciente até a cirurgia, passando pelo diagnóstico mais preciso. No Hospital Albert Einstein, em São Paulo, a tecnologia é fundamental em áreas que vão desde a oncogenética (verificação de predisposição hereditária ao câncer) até delicados procedimentos cardíacos.

– Um dos mais recentes e importantes é a intervenção na valva da artéria aorta (valva aórtica) através de um cateterismo, bem menos invasivo do que a cirurgia convencional – explica a médica Márcia Makdisse, gerente do programa de cardiologia do hospital. – Esse procedimento é alternativo (não indicado para todos os casos) e pode ser feito diretamente no laboratório de hemodinâmica, acompanhado via monitor.

Na parte cardíaca, a dra. Márcia destaca ainda programas de prevenção da arritmia cardíaca através de monitoramento em casa, com um aparelho capaz de transmitir por telefone para o hospital o registro dos batimentos do coração, e novas técnicas tomográficas e nucleares capazes de detectar precocemente lesões prejudiciais ao paciente.

Do ponto de vista dos médicos, a teleconferência via internet é também uma grande pedida. Alexandra Monteiro, médica radiologista da Casa de Saúde São José e coordenadora de telemedicina da Faculdade de Ciências Médicas da Uerj, diz que, no âmbito de iniciativas do governo como o Programa Nacional de Telessaúde, médicos do interior conseguem cotejar diagnósticos com hospitais mais bem aparelhos nas grandes cidades, ajudando a formar diagnósticos mais acurados.

– É possível enviar pela web scans de exames em formatos próprios da medicina, mas é preciso tomar cuidado para preservar a privacidade do paciente, já que a rede é transparente – explica Alexandra. – Estamos aos poucos avançando nessa integração técnico-médica, e acredito que o final do processo será uma biblioteca virtual de saúde em que se possa melhor gerenciar o conhecimento sobre as doenças, algo essencial num país continental como o nosso.

Raio-X digital conta com “Photoshop” de radiografias

Nem só de internet vive o dia-a-dia de clínicas e hospitais. Máquinas poderosas chegam para ajudar a desvendas as manhas das doenças com precisão. Um exemplo é o raio-X digital, que hoje conta com um scanner de alta resolução feito pela Kodak, o DirectView CR-850. Usado, entre outros locais, no Centro de Reumatologia e Ortopedia Botafogo (Creb), ele contém um software que é uma espécie de Photoshop voltado para radiografias.

– O técnico insere a chapa no scanner, que em segundos a digitaliza e, depois, é possível manipular a imagem resultante de várias formas: dando zoom, melhorando brilho e contraste, examinado detalhes e por aí vai – explica Bruno Libman, administrador do Creb.

O resultado vai direto para o computador do médico, que pode chegar a um diagnóstico bem mais rapidamente. O reumatologista Eduardo Sadigurschi já consulta direto a versão computadorizada do raio-X para chegar a suas conclusões.

– A imagem fica muito mais nítida e, podendo aproximá-la, conseguimos ver até as menores lesões ortopédicas e reumatológicas – explica o dr. Eduardo. – Isso leva a diagnósticos mais precoces, que ajudam muito no tratamento.

No fim, em vez de levar uma incômoda chapa para casa, a pessoa leva um CD com a imagem, que pode auxiliar numa consulta médica posterior.

Resultados de exames chegam pela internet

Mas os resultados dos exames também podem chegar pela internet. A Veus Technology oferece esse serviço num totem no Labs D’Or, no Rio, e também por email ou celular. Segundo Marcelo Botelho, presidente da empresa, devem ser instalados uns 30 totens até meados do ano que vem em hospitais cariocas.

– O envio de exames vai não só para o totem, mas também para todo o restante do nosso sistema: smartphone, SMS, internet… e agora estamos implantando um serviço de reconhecimento de fala para que o paciente pegue o resultado do exame pelo telefone – diz Marcelo.

Naturalmente, em celulares mais simples o SMS é melhor meio de receber um alerta do resultado (não só para o paciente, como para o médico que precisa liberar um laudo, por exemplo). Mas em smartphones com acesso à internet via browser, como no PC, é possível acessar fotos do exames reduzidas por uma metodologia da própria Veus.

Um passeio pelo laboratório da rede D’Or mostra como a tecnologia mudou a vida de quem faz exames. Máquinas especializadas nos mais diversos tipos de exames – de microbiologia a urina – reduzem drasticamente o tempo de coleta, análise e conclusão de um exame médico.

– Nosso setor é capaz de processar cerca de 450 amostras de urina por dia e cerca de 200 de parasitologia (fezes) – conta Eleir de Lima, coordenadora da parte de urinálise e parasitologia do laboratório.

A maior parte do processo é automática: os profissionais organizam as amostras em bandejas que são inseridas em máquinas integradas ao sistema de computadores do laboratório. Cada amostra leva até 2 minutos para ser examinada. Do início de todo o processo até a liberação do laudo com o aval do médico leva-se cerca de duas horas.
– Com isso, conseguimos enviar alertas precoces aos pacientes, avisando que os exames ficaram prontos antes do fim do prazo – explica Marcelo.

Em outro setor, máquinas testam a que substâncias diversos tipos de bactérias reagem, para determinar o tipo de antibiótico que poderá ser receitado para um paciente.

A computação tem ramificações em diversas áreas da medicina. Uma delas é a oftalmologia. A saúde dos olhos, aliás, é uma grande preocupação depois que o computador chegou. Nesse inverno por que passamos, os casos de conjuntivite são agravados em quem usa o computador constantemente – você sabia?

– Mas nem tanto pelo uso do PC em si: é mais pelo contágio via teclado e mouse, dois meios terríveis de contaminação de conjuntivite viral – diz o oftalmologista do Instituto Penido Burnier de Campinas, Leôncio Queiroz Neto. – E passar álcool neles não elimina o adenovírus que causa a doença.

Outro problema à qual a turma do micro é afeita é o ressecamento dos olhos, porque nos esquecemos de piscar quando estamos diante do computador. A saída, diz o dr. Leôncio, é procurar piscar voluntariamente, botar o monitor 20 graus abaixo do nível dos olhos, evitar ambientes com ar-condicionado e olhar para o horizonte por cinco minutos a cada hora de trabalho no computador.

Um outro lado da tecnologia na área oftálmica é a produção de lentes de óculos high-tech. A Essilor, criadora das lentes Varilux, acabou de lançar a Crizal A2, uma lente manipulada quimicamente para evitar a eletricidade estática.

– Até agora, quando você limpava os óculos, a fricção do pano atraía as partículas de poeira para as lentes – explica Maurício Comfar, gerente de produto da Essilor. – A nova lente teve suas moléculas mexidas, alterando sua densidade, o que repele as partículas na hora da limpeza.

Publicado em O Globo (Revista Digital)

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