Natasha Bragança Tello, 16 anos, praticava jumping três vezes por semana em uma academia do Rio. Para ver mais as amigas, passou a bater ponto diariamente e dobrou a atividade. Resultado: tendinite no joelho, que a obrigou a parar por dois meses para fazer fisioterapia. Lesões por excesso de exercícios são cada vez mais comuns em crianças e adolescentes. Observando a tendência, a Academia Americana de Pediatria lançou a recomendação de controle de ritmo.
– Os sintomas são vagos, como cansaço, dificuldade para dormir ou acordar, falta de apetite. Pediatras interpretam os sinais como anemia, e investigam só o quadro atual, sem avaliar a intensidade, duração e competitividade na atividade física – explica Ricardo Barros, coordenador do Grupo de Trabalho de Medicina Desportiva em Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Mas de quem é a culpa? Pais, treinadores, médicos – todos têm sua parcela. A mãe do menino A., 13 anos, conta que, certo de que será um novo Guga, o pai o matriculou numa escolinha de tênis. Tem aulas duas vezes por semana – carga que o professor considerou adequada. Para apressar a evolução, o pai passou a treiná-lo também no fim de semana. O professor notou queda no rendimento e questionou a mãe, que chamou o filho para conversar:
– Ele contou que tinha dores no ombro e não podia reclamar, pois o pai achava que era desculpa. Levei ao médico e me apavorei: ele quase rompera os ligamentos.
Roberto Nassar, treinador do Flamengo, diz que não há excessos assim em escolinha oficial. Mas como controlar pais que querem fazer dos filhos campeões a todo custo?
– Não permitimos treinos depois do horário. Ficamos de olho para ver se isso é feito em casa. Hoje as escolinhas visam o lado financeiro, e sobrecarga no treinamento é prejuízo para todos.
Especialista em medicina do esporte, Rodrigo Kaz, que cuidou de Natasha em um centro médico em Botafogo, diz que o consultório está cheio de casos parecidos, e nem sempre os pais são atentos.
– Tem horas que me sinto tratando mais das mães do que dos filhos. Muitas perguntam qual o esporte ideal e digo: o que as crianças fizerem com satisfação.
Marcos Brazão, diretor científico da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e coordenador da Câmara Técnica de Medicina do Esporte do Cremerj, concorda:
– Respeitar o que a criança gosta é o primeiro passo – diz o médico – Descanso insuficiente entre os treinos, má alimentação ou até desprazer com a atividade podem ser causas das lesões.
Adultos também estão sujeitos, mas com jovens é mais grve.
– Pode haver encurtamento muscular e enfraquecimento ósseo. Como a placa de crescimento ainda não está fechada, é preciso ter cuidado – recomenda Brazão.
Publicado no Jornal do Brasil
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